sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

MEMÓRIAS.


Coração enfermo, entorpecida mente, interno descrente, Luz da aurora, alvorada reluzente, Ostracismo pedaço de seiva, um corpo a que repudio, De inferno e céu habita em mim, louca e santa a me induzir. Invisíveis ancestrais. Descompassado elo que me atrai, sórdido mal que me distrái. Vozes que alimento, vivos vestígios não deixam ser decorrido. Memória de lentos eventos, repassam no obscuro da lente, Desorientado hemisfério em que o findado é o presente. Thaís de Sá

Pérfida Orbe.


Mundo imundo, perverso, sagaz.
Misteriosa rotação que ilude coração e canção,
Sangra o sonho, sonhador,
Entorpece anônimo criador,
Entristecido poeta traduzido em dor,
Eleva emoções, encantos.

Astro traidor que exige dos mais belos corações seu ardor,
Das mais belas faces seu furor,
Dos mais belos sentimentos o horror,
Um palco jocoso do belo sorriso ameaçador.

Nas voltas desse gigante magnata infante,
Mãos aguardam minha chegada,
Entrelaçando dedos em papéis,
Esperando converter-me a um de seus fiéis.

Thaís de Sá

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Quando a hora dobra em triste e tardo toque.


Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-se o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta têmpora assedia;
Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;
Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.
Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Refém.


Refém do medo, do tempo, da misericórdia, do perdão.

Devasso espírito imundo descortina-me por inteiro, me tirando qualquer solução.

Refém e prisioneira de uma cadeia sem muros.

Promessas prometidas por lábios que nunca me libertarão.

Pessoas e sorrisos falsos e seus corações duros,

Acorrenta-me com força nos pesares dessa paixão,

Que me desordena me anula de qualquer outro coração.

Eficazes palavras que ajudam meus sentimentos nulos,

Mãos sujas a percorrer meu corpo, miserável adoração,

Provocando minha alma, gerando pensamentos fulos,

Me deixando refém do perdão

Um demônio excomungado como sórdido ladrão.

Uma lágrima tomada pela fraqueza da possessão.

Thaís de Sá

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Império de Lobos


Como a folha seca me sinto levada pelo vento. As estradas percorridas são um círculo em que faço e refaço as mesmas coisas, as mesmas preces... E minha vida é um império de lobos ferozes, que me ameaçam, me aniquilam, me arrastam com garras e dentes brutais. Vida essa que me estraçalha, me morde, me sangra. Vida essa que por mais que eu sofra tento enfrentá-la, refazê-la, mudá-la, mesmo me sentindo incapaz, imutavelmente fraca. Estou esperando ao vento, sentada ao relento, observando o pôr-do-sol interminável esquentar minha pele gelada e sem vida, aquietando meu espírito imundo e hipócrita. Mas talvez eu me erga daqui e tente novamente encontrar o caminho de casa pelas estradas dessa vida tão pérfida e incerta.

thaís de sá

Me desfaço, Me refaço...


Depois de viagens subterrâneas, viagens pelas estradas íngremes de meu ser. Viagens que não gostaria de refazer. Depois de sentir as lágrimas grossas escorrerem por meu corpo, ainda tão frágil, meramente vazio. Pude ver o vermelho da vida, pude perceber o azul e o negro de cada ponto em que me encontro. Onde me desfaço, me refaço, me envergonho de meus prantos. E dói, a perda do fogo flamejante que me alimentava ultrajante. Sinto a esta altura mãos fortes a apertar meu pescoço, a me possuir e tirar-me a vida. Lânguidos olhos me encaram, voluptuosas mãos me enlaçam, cálido terror que me ameaça. Melhor seria se o fim estivesse próximo, e que me pudesse possuir de vez, anulando minha dor e pavor, me libertando para um mundo exterior em que eu estivesse em meu favor. Mas o fim não está próximo o que me faz lutar contra a força que invade minha garganta, contra os olhos que sufocam minha mente, contra mim que preferiria perder a chance de tentar novamente. Perdendo o medo realizo o preceito de que só eu tenho a chance de ganhar de mim mesmo. Thaís de Sá

domingo, 3 de fevereiro de 2008

BRISA


Sinto a brisa tocar meu rosto, meus pensamentos brotam como uma semente que germina.

Vagarosamente meus olhos fecham anulando a consciência de minha existência.

Sinto-me só. Sem começo, sem meio, sem fim. Sinto-me tudo. Sinto-me nada. Parte do vento que sopra e pode tocar até a mais hostil das armas.

Meu horizonte eu amava, uma infinita estrada que percorria sem chegar a lugar algum.

Onde me tornei prisioneira de meus próprios anseios, que sem sentido, vaguei pela multidão de meus medos, rastejei pelas ruas escuras de meus desejos.

Minhas feridas inflamaram, a dor me consumiu, eu não chorava, mas, sentia falta das lágrimas que se deliciavam de minha face, pois elas esfriavam meu rosto e junto com a brisa minha alma acalentavam.

THAÍS DE SÁ